O futuro grisalho já chegou

maio 26, 2022

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Famílias nucleares reúnem-se para confraternização com parentes de diferentes gerações, em sua maioria, mulheres. Crianças e jovens recebem educação gerontológica nas escolas e convivem em harmonia com idosos. Pessoas com mais de 50 anos de idade trabalham por mais tempo, tanto se mantendo em seus cargos como se dedicando a empreendimentos bem-sucedidos. Políticas públicas são implantadas e os idosos participam ativamente da sociedade, que valoriza suas experiências. A publicidade cumpre seu papel social desfazendo estereótipos e contribuindo para uma imagem positiva do envelhecimento. A bengala é vista como símbolo de segurança e não mais de dependência.

Cenários idealizados, como estes, podem se tornar mais frequentes, à medida que o novo perfil demográfico vai gerando um profundo impacto na economia, na política, na cultura e na sociedade. O envelhecimento populacional e a longevidade são características marcantes desta primeira metade do século 21. Hoje, temos 600 milhões de pessoas acima de 60 anos e seremos mais de 1,2 bilhão, em 2025. A cada dez pessoas, uma tem mais de 60 anos. Para 2050, estima-se que esta relação será de cinco para um. Entre os idosos, o grupo dos mais velhos (idade superior a 80 anos) é o que aumenta mais rapidamente. Os centenários, que atualmente são 269.000, poderão atingir 3,8 milhões, em 2050. 

Neste panorama global, o Brasil é um país em grande transformação. O número de idosos aumentou 47,8% na última década, o que representou um incremento bem superior ao crescimento da população do país, que aumentou, no mesmo período, 21,6%. Hoje temos 19 milhões de idosos, equivalente a 10% da população e, em cerca de 20 anos atingiremos o patamar dos 30 milhões.

No entanto, apesar das mudanças já anunciadas, ainda há pouca conscientização sobre a importância de se despertar para esta realidade. Vivemos um paradoxo em que ter vida longa agrada a muitos, mas a ideia de envelhecer não agrada a ninguém. 

Acabamos lutando contra a passagem do tempo e cultuando um padrão despótico de juventude. 

As empresas ainda focam no desenvolvimento de serviços e produtos exclusivos para os mais jovens. Desconhecem as expectativas e necessidades dos idosos e não sabem se comunicar com os diversos segmentos do público mais velho. O envelhecimento ainda é negligenciado nas ações de cidadania e responsabilidade social. 

Torna-se necessário lançar um novo olhar sobre antigas questões, de forma a acompanhar as alterações demográficas em curso. Não só estamos vivendo mais, como melhor. Estilos de vida saudáveis e maior acesso a tratamentos médicos fazem com que, nos centros urbanos, as pessoas que chegam aos 60 anos, sem doenças graves, possam ter mais 15 anos de expectativa de vida saudável. Atingindo os 70, terão mais 10 anos, em boas condições de saúde. 

Fatores como: planejamento da segurança econômica e cuidados à saúde, ao longo da vida; boa adaptação às mudanças associadas à idade; além da manutenção de uma rotina dinâmica e ativa contribuem para uma maior qualidade de vida, à medida que se envelhece. E, envelhecendo melhor, as pessoas mais velhas tornam-se um recurso importante para suas famílias, para a sociedade e para a economia. 

É tempo de valorizar o conhecimento acumulado e celebrar as inúmeras contribuições dos idosos, cujos exemplos são encontrados em vários países. Os americanos maiores de 60 dedicam 3,87 bilhões de horas, por ano, ao trabalho voluntário, refletindo seu engajamento nas comunidades. Estima-se que os avós suíços cuidam de seus netos durante 100 milhões de horas, por ano, o que corresponde a um trabalho avaliado em 2 bilhões de francos. Os idosos brasileiros contribuem com mais de 50% da renda familiar, em 53% dos domicílios. No Japão, os idosos responderão por 20% do consumo, até 2020, quando gastos com assistência médica e lazer estão entre os que mais crescerão, podendo gerar empregos nestas áreas. 

A geração que hoje chega à terceira idade inaugura um novo ciclo de vida com grande potencial de realização. Ao despertarem para outros interesses e projetos pessoais, geram diferentes oportunidades e influenciam os mitos que permeiam o envelhecer. Assumem, cada vez mais, um papel transformador na construção de um ambiente favorável ao envelhecimento ativo. 

Mas, se não houver planejamento e rápida adequação a este novo mundo mais velho, não teremos chance de usufruir cenários ainda tão distantes da nossa realidade.

*artigo originalmente publicado na Revista da Swisscam (37ª. edição) – Câmera Suíça de Comércio.

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