Envelheci estudando envelhecimento.
E, como mulher, à medida que o tempo avançou, fui vivenciando e observando questões específicas do envelhecer feminino.
A longevidade não é exclusiva das mulheres, mas é entre elas que encontramos mais implicações de uma vida longa.
Para começar, somos muitas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, aos 60 anos, há 123 mulheres para cada 100 homens. Supreendentemente, aos 100, essa proporção atinge 385 mulheres para cada 100 homens.
Não estamos falando só de números, mas de vidas que exigem atenção. As mulheres vivem e, portanto, envelhecem, em um contexto desafiador. E tentam, há tempos, revertê-lo.
Desde a revolução sexual nos anos 60, começaram a assumir o protagonismo de suas vidas, decidindo se teriam filhos ou não. Com isso, ampliaram as oportunidades de estudo e trabalho, e procuraram ocupar espaços antes vetados a elas.
Porém, algumas demandas permanecem as mesmas ou se agravaram, pois passamos a acumular mais funções.
Além dos afazeres domésticos, as mulheres agora são as principais cuidadoras de seus familiares idosos. Encaram duplas ou triplas jornadas de trabalho - remunerado e não remunerado.
As desigualdades se estendem a saúde, onde, tradicionalmente, há mais estudos com amostras masculinas. Mulheres apresentam sinais atípicos e tem seus sintomas negligenciados e interpretados como problemas emocionais. Subdiagnosticadas, deixam de receber tratamento adequado. E, com pouco tempo para o autocuidado, são mais sujeitas a problemas de saúde mental como depressão e demência.
Ao atingir a sexta década, as mesmas garotas dos anos 60 continuam a querer mudanças. E elas são mais do que necessárias.
Sob a lente do gênero feminino, os quatro capitais (saúde, renda, conhecimento, redes sociais) que devemos acumular para envelhecer bem, ganham outra dimensão. O acúmulo das persistentes desigualdades no curso de vida da mulher acaba impactando sua velhice.
Relatório recente do Fórum Econômico Mundial indica que, no ritmo atual, levará 169 anos para equilibrar a participação e oportunidade econômica; 162 anos para a política; 16 anos para a educacional. O tempo para a desigualdade em saúde permanece indefinido.
Mas, há muita potência nas mulheres. Não por acaso, alguns dos atributos essenciais para a longevidade são substantivos femininos como esperança, resiliência, flexibilidade, adaptação.
Isso nos leva a estabelecer relações com facilidade. Muitas vezes, são as amizades tecidas ao longo da existência a grande força feminina.
Mulheres são curiosas, tem projetos de vida, participam ativamente de grupos sociais. E gostam de adquirir novos conhecimentos. E há um, em especial, que precisa ser apreendido o quanto antes: evitar sucumbir ao apelo coletivo de negar o envelhecimento.
Isso nos faz perder a consciência de um processo intrínseco à vida e nos desvia do que realmente precisamos: priorizar a saúde e ter um planejamento financeiro.
Essa é uma tarefa que cabe a cada uma de nós. Mas é, principalmente, o papel da sociedade, que tanto se beneficia da força feminina.
É hora de uma nova parceria com o tempo, para usá-lo a nosso favor. Viver mais também traz a possibilidade de realizar sonhos.
Eu? Espero continuar a viver – e a envelhecer, estudando o envelhecimento. E ver, agregados à longevidade, outros substantivos femininos como proteção, segurança e solidariedade.
*artigo originalmente publicado no Jornal o Globo, em 27 de abril de 2024. Seção Saúde. Apresentado por Bradesco Seguros.
Parabéns Andrea, excelente resumo de tudo que passamos ao longo de nossas vidas e o que ainda nos resta. Temos que envelhecer com dignidade e ter orgulho disto. Porque só envelhece quem já venceu todas as etapas, ou seja, velho é o jovem que deu certo.
Que bom que gostou, Monica! Filhos, carreira... e muito trabalho. Um curso de vida e tanto que deve ser valorizado. Obrigada!
Excelente artigo que retrata bem o que vivemos ao longo do envelhecimento feminino. Parabéns, Dra Andrea Prates!
Obrigada, Felomenia. Tantos desafios no nosso curso de vida... e teimamos em viver mais!
Parabéns Dr Andreia muito bem elaborado o artigo de extrema importância para nós mulheres essa visibilidade que há tempos vem sendo banalizada que tem uma grande importância e conscientização da longevidade feminina 60+de visibilidade diante a sociedade fenomenal 🌹✨🕊️
Obrigada, Gilda! É mesmo um tema que precisa ganhar muito mais visibilidade.