A que (ou a quem) você é verdadeiramente grato?
Confesso que, nos últimos anos, a banalização da palavra “gratidão” me incomoda. Especialmente porque é dita, escrita e, muitas vezes, exibida socialmente, sem qualquer alinhamento entre a consciência e a atitude em si.
A gratidão sincera contempla mecanismos muito mais complexos do que a mera superficialidade da palavra. Tem significados profundos e envolve a ciência.
Hoje, é comemorado, nos EUA, o “Dia de Ação de Graças” – um feriado nacional dos mais celebrados. Com ritos e costumes históricos forjados na cultura americana, a data contempla o agradecimento por graças recebidas em meio a reuniões familiares.
Não temos esta tradição no Brasil. Porém, podemos rever nosso modo de sentir e expressar gratidão. Incorporar este hábito em nossa rotina pode ter repercussões positivas na saúde.
Na Universidade de Sheffield (Inglaterra), a pesquisadora Fuschia Sirois se dedica ao estudo da gratidão e da compaixão, bem como o impacto de ambas na saúde, bem-estar e qualidade de vida. Seus trabalhos revelam um benefício especial em casos de stress contínuo, como o dos portadores de doenças crônicas.
Segundo ela, ao introduzir pequenas tarefas de agradecimento diário, os resultados vão se ampliando, de forma consistente. À medida que as pessoas começam a identificar as pequenas coisas pelas quais são gratas, desenvolvem um sentimento geral de gratidão, que vai além de momentos específicos em que recebem algo bom de outras pessoas. E é esta predisposição mental à gratidão pela vida, em geral, que leva a um estado positivo de saúde.
Ao focar nos pensamentos ou eventos positivos há um estímulo para o autocuidado, com maior adesão a estilos de vida mais saudáveis. Atenção à alimentação, exercícios físicos e redução do consumo de cafeína estão entre eles. Isto resulta em melhora do sono, alívio da dor, redução do stress, diminuição da inflamação no organismo.
As pessoas gratas também foram analisadas do ponto de vista neurológico. Parece haver uma sobreposição de mecanismos pelos quais a gratidão atua. Ao expressar gratidão, há a liberação de dopamina (neurotransmissor), que estimula tanto os núcleos da sensação de prazer – com relaxamento e tranquilidade – quanto o sistema de recompensa do cérebro. As atividades cerebrais são a base neurológica da satisfação e da autoestima, e do aumento da persistência.
Assim, ao analisar amostras, com milhares de pessoas, a pesquisadora observou a relação entre o comportamento positivo e melhor orientação para o futuro, já que as áreas do cérebro ativadas são as mesmas que controlam nossa capacidade de pensar sobre o resultado de nossas ações, reforçando o desejo de seguir rumo às metas que estabelecemos.
Seja em sentimento, ação, pensamento, atitude, ser autenticamente grato é uma das mais belas virtudes e tem efeito duradouro em nossa saúde física, mental e influi no enfrentamento de nossos objetivos.
Vamos começar a ser gratos de forma sincera e contínua? A que (ou quem) você é verdadeiramente grato, hoje?
Ótima reflexão, Andrea! Concordo com você...