As lições das escolas de samba

fevereiro 23, 2023

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Escola de samba é coisa séria. Tão séria que leva a vida a sério.

Os desfiles são cultura a céu aberto. Uma explosão de brasilidade. Uma forma de expressão social, histórica e política, com alegria e bom humor.

Mas, quem vê os desfiles, em toda sua glória e beleza, não imagina o imenso trabalho nos bastidores, que envolve milhares de pessoas. Representativas de seus bairros de origem, as escolas são verdadeiras comunidades, que somam muitas histórias de vida, com seus códigos de conduta, união e solidariedade.

Algumas lições das escolas são bem conhecidas.

Criatividade e inovação

As escolas têm um potencial criativo inesgotável. Novos temas e enredos são apresentados, incorporando novidades em tecnologias, materiais, vestuários e cenografias diferentes. A cada ano, surge um novo elemento para encantar o público. É um exercício contínuo de inovação, aliado aos valores e tradição de cada escola.

Liderança

São milhares de componentes e colaboradores, alocados em setores e tarefas distintas, que compõem a escola, como um todo. Cada um cumpre o seu papel, orquestrados por lideranças sólidas.

Paixão e propósito

Os integrantes são comprometidos e apaixonados por seus pavilhões. Se envolvem, defendem e torcem por eles, mais do que qualquer coisa. As escolas dão pertencimento às pessoas e se tornam o propósito de suas vidas.

Entre outros ensinamentos, não tão aparentes, há o que é a essência de cada escola: a atenção às pessoas.

As escolas respeitam seus integrantes, em todo seu ciclo de vida. Não há preconceitos, ninguém é “descartado” em função da idade. Ao contrário, a ancestralidade é celebrada, as experiências são valorizadas e o conhecimento passa, de geração a geração. Isso é bonito – e raro de se ver.

As crianças

A ala das crianças traz o futuro. Os mais jovens são preparados e treinados, nos primeiros passos do samba e no envolvimento com a escola. Quando jovens, homens e mulheres estão nas mais diversas alas e funções – passistas, ritmistas, seguranças... Todas as posições que exigem maior vigor e agilidade. Atravessar a avenida dançando e cantando, a plenos pulmões, exige um bom preparo físico. Assim como conduzir os carros alegóricos e fazer a segurança das pessoas, ao longo do trajeto.

Os adultos

As baianas, uma das alas mais importantes, homenageia as origens afro-brasileiras do samba, através das antigas tias, que abrigavam os sambistas, quando estes ainda eram marginalizados e perseguidos. Elas são um elo de tradição das escolas. A ala é composta por mulheres maduras, exemplos de vida e dedicação, propagam a raiz do samba às novas gerações – seus filhos e netos. Têm fantasias elaboradas, com saias rodadas, e se põem a rodopiar, graciosamente, na avenida, para deleite do público.

É frequente, ainda, observarmos pessoas maduras, homens e mulheres, na bateria, o verdadeiro coração da escola. Sua experiência na marcação do ritmo ensina e inspira os mais novos.

Os idosos

Os sambistas mais antigos, muitas vezes fundadores, compõem a velha guarda. Este grupo é fundamental para a preservação da cultura do samba e da identidade de cada agremiação. São eles que mantêm viva a história do Carnaval brasileiro. Como o próprio nome sugere, são “guardiões” dos valores e das tradições e são homenageados por seus esforços. Os requisitos para este grupo levam em conta a idade e os anos de serviços prestados. Assim, os que se destacaram como ritmistas, mestres-salas e passistas são convidados para o desfile. São pessoas idosas, muitas em idade avançada que, em trajes de gala, nas cores que sempre defenderam, desfilam no chão ou em carros. Geralmente, compõem a ala que fecha o cortejo e seus membros mais simbólicos estão na última alegoria. É o passado em posição de honra.

Como não se encantar com a gratidão e o respeito às pessoas idosas, que antecederam e traçaram os caminhos que são percorridos no presente. Mesmo quando não se tem a mesma agilidade de antes, mas o amor à escola é o mesmo, as pessoas são alocadas em outras funções e participações. Vivenciam o ciclo de vida completo na mesma comunidade, na mesma agremiação que ajudaram a criar e conduzir ao crescimento.

É uma das lições mais caras das escolas de samba, que precisa ser aprendida pelas empresas, organizações e pela sociedade em geral. Há muita vida, em cada manifestação de vida, ao longo do tempo.

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8 comentários

  1. Puxa Andrea! Você criou um extenso laudo sobre o papel das escolas de samba em nossa cultura! Parabéns pelo rico conteúdo! 👏👏👏

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