Neste 7 de janeiro, Dia do Leitor, trago uma experiência e um dos livros mais marcantes que eu li. De leitora para leitor(a): não é uma dica de início do ano. É para a vida.
A “Autobiografia de um Iogue Contemporâneo”, de Paramahansa Yogananda, me foi indicada pela minha professora de ioga, a saudosa Sra. Hermínia. À época, ela tinha 75 anos (eu e os velhos...) e sua casa era local de aulas concorridas, em São Paulo, nos anos 80. Antes da matrícula, realizava uma entrevista aprofundada com cada um.
As turmas, reduzidas, tinham de 3 a 5 alunos, todos com os olhos vendados. As práticas eram específicas e, os exercícios, orientados e corrigidos, individualmente. Tudo preparado e executado com cuidado e delicadeza.
Só a venda era um fator seletivo. Muitos abandonavam as aulas, não conseguiam executar as posições com a introspecção e a concentração exigidas “ao se olhar para dentro”. Para mim, era uma dádiva. Saía das sessões às 8 horas, das segundas-feiras, em estado de graça. E, desde o início, o livro do Yogananda foi a leitura recomendada para entender a minha intuição.
O livro tem a força da narrativa, em primeira pessoa, de uma vida tão excepcional quanto autêntica. O iogue indiano, nascido em 1893, filho de pais devotos, desde cedo manteve-se curioso quanto aos assuntos espirituais. Após sua iniciação junto aos mestres orientais e estudos na Universidade de Calcutá, foi aos Estados Unidos, para proferir uma palestra. Seu tema, a ciência da religião, teve grande repercussão. Acabou se estabelecendo no país norte-americano, sendo pioneiro na introdução da antiga filosofia indiana no Ocidente.
Yogananda transpôs barreiras e fronteiras. Através dele, a prática de ioga e meditação, restritas às cavernas do Himalaia e aos ashrams*, ganhou o mundo e foi descomplicada. Realizou inúmeras palestras, conheceu autoridades, fundou escolas, organizações e centros. A disseminação dos ensinamentos se dava de várias formas, seus alunos recebiam lições de ioga pelo correio. O importante era a mensagem da autorrealização e do autoconhecimento chegar às pessoas.
E é esta a tônica do livro. Em meio a histórias fortes e encantadoras da sua trajetória, ele busca simplificar, elucidar e unir as diferentes visões sobre espiritualidade, falando, com profunda sabedoria, sobre a vida e o universo. São frequentes as notas de rodapé, interessantes e explicativas, mostrando aspectos da cultura indiana e traçando paralelos com o cristianismo.
É um livro tão rico e singular que, me lembro do vazio que senti quando terminei a leitura. E, não por acaso, tem impacto na vida de muitas pessoas.
George Harrison, fez uma viagem à Índia e, pediu para conhecer os monges do Himalaia. Recebeu o livro de Yogananda, que o acompanhou por toda a vida. Mantinha exemplares pela casa e, frequentemente, os doava para pessoas, especialmente as que precisavam encontrar seus caminhos. Yogananda foi incluído na cultura pop: está na capa do disco Sgt. Pepper’s.
Steve Jobs, como sabemos, era criativo e seguiu um caminho único e original. Tinha especial devoção a esta obra. Leu o livro na adolescência, o que o motivou a conhecer a Índia. Este era o único livro em seu iPad, e o relia, anualmente. Em seu funeral, preparado detalhadamente por ele mesmo, os convidados receberam uma caixa de madeira e, dentro dela, um exemplar da “Autobiografia de um Iogue”. Era seu presente final para as pessoas. Algo significativo, para os que eram especiais em sua vida.
Yogananda faleceu em 1952, aos 59 anos, cumprindo lindamente sua missão. Em 1920, fundou sua primeira organização nos EUA. Foi um líder visionário, um homem de negócios, um idealizador de iniciativas disruptivas em cultura e educação. Era um ser profundamente espiritual, que trazia para a vida prática e concreta os ensinamentos que recebeu. Enfatizava que a intuição era parte essencial da vida, e deveria estar presente nas relações, nos negócios, na vida complexa da sociedade moderna.
Ao escrever este texto, aumenta minha admiração pelo pioneirismo de Yogananda. Vemos, atualmente, a difusão da prática de mindfulness e outras iniciativas, que buscam resgatar a atenção a nós mesmos e ao momento presente – essenciais para a saúde mental. Um desafio em meio ao mundo ruidoso e de estímulos incessantes em que vivemos. Hoje, já sabemos que só ouvindo nossos corações e seguindo nossas intuições teremos clareza de pensamentos, estímulo à criatividade e, acima de tudo, vidas mais plenas e alinhadas com os nossos propósitos.
Está na hora de eu reler a “Autobriografia de um Iogue”, novamente... Vale muito a leitura. Pela data, pelo ano que se inicia. Vale para a vida.
*Um ashram é um eremitério espiritual ou um mosteiro nas religiões indianas.
Boa noite, Dra Andrea Prates!
Como vai? Com alegria passo por aqui absorvendo das suas inspiradoras experiências. Vou buscar por este livro de Yogananda. Obrigada por compartilhar. Abraço 🌺
Flávia, eu é que agradeço sua companhia! Espero que este livro seja especial para você, como foip ara mim. Me conta depois o que achou! Grande abraço.