Há quatro anos, no intervalo de apenas cinco dias, o Brasil perdeu três de seus maiores escritores. João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos. Rubem Alves, aos 80 anos. Ariano Suassuna, aos 87 anos.
João Ubaldo, premiado membro da Academia Brasileira de Letras era também roteirista e jornalista, mantendo crônicas semanais no jornal O Estado de São Paulo. Teve obras publicadas em vários idiomas e adaptadas para a televisão e teatro.
Rubem Alves, além de escritor era psicanalista, teólogo, educador e um dos mais influentes pedagogos brasileiros. Tem extensa publicação de livros em áreas diversas incluindo literatura infantil. Foi, por longos anos, colunista da Folha de São Paulo.
Ariano Suassuna, também acadêmico, além de poeta, dramaturgo e romancista, se destacava na defesa da cultura popular brasileira, especialmente a nordestina. Suas apresentações pelo país afora eram concorridas, e sua autenticidade conquistava os mais variados públicos.
Escritores consagrados, eles desenvolveram um olhar aguçado sobre o cotidiano e a sociedade. Entre tantos outros, o envelhecimento e a velhice foram temas comuns a todos eles.
Do alto de muitas décadas de vida, os mestres na arte das palavras se incomodavam exatamente com as palavras usadas para se designar os velhos.
Ariano Suassuna queixava-se que as pessoas evitavam duas palavras na sua frente: velho e velhice. E falava do orgulho que tinha em ser velho, por achar um privilégio chegar até a idade avançada. Abominava a “terceira idade”. Por que velho é politicamente incorreto? - questionava Rubem Alves. Palavras mágicas ou eufemismos detestáveis, como dizia João Ubaldo, são usados para disfarçar a condição de velho, como se velhice fosse um defeito. E, no fundo, essas são expressões ofensivas porque reforçam a condição aparentemente “negativa” de envelhecer. Para Rubem Alves, terceira idade é fila de banco, e velho é poesia. Com lucidez ímpar nos lembra que Hemingway jamais escreveria “O Idoso e o Mar”. Para ele, “melhor idade” em alto-falante de aeroporto, só podia ser gozação... E é. Ao menos, das mais inadequadas formas de tratamento.
Esses três escritores que se foram deixaram um imenso vazio no panorama cultural brasileiro. E uma importante reflexão sobre o direito de ser simplesmente velho nesse país.
Não deixe de ouvir aqui o comentário ácido e certeiro de Ariano Suassuna (com 82 anos na época), ao participar do Projeto "Vozes de Mestres - Festival Internacional de Cultura Popular" (CCBB) em Curitiba, Paraná, junto a dois mestres do fandango.
Em caso de dificuldade de áudio, leia o trecho transcrito:
“Eu tenho notado, de certo tempo para cá, que as pessoas, quando conversam comigo evitam pronunciar duas palavras: velho e velhice. Mas não tem desacato em mim não. Por que eu vou dizer uma coisa: eu acho que tem três privilégios aqui e eu sou o mais velho dos três. Chegar aos 82 anos bem disposto, bem humorado, eu acho que isso é uma façanha. Então, eu não tenho que me envergonhar desse nome não. Eu sou com muito orgulho um velho. Um velho escritor brasileiro. Agora, eu não gosto é desses nomes que andam inventando para substituir a palavra em si. Inventaram a tal de terceira idade. Essa eu não suporto. Começa que isso está errado. As fases são cinco: infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice. Se dizem três fases, terceira idade, é como as frutas. Aí só tem três condições: verde, madura e podre. Eu não aceito isso não.”
Dra Andreia. Show!.. tudo bem encorpado resumindo e engajado, muito bem colocado e vídeo do Sussuarana é falando sobre o preconceito do envelhecimento fantástico,Achei tudo bem atualizado para o que estamos vivendo hoje👏👏👏
Que bom que gostou, Gilda! Fico contente. Obrigada!
Maravilhoso!!! Parabéns por mais esta conquista !
Obrigada, Moema!